quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O sal da minha vida

Uma morna ventania
embaraça meus cabelos
balança as folhas verdes das árvores
derruba as amarelas
borboletas que caem
ao calor da maresia...

Um barco solitário
tenta chegar à praia
vence cada onda
trima suas velas
e se perde numa tela
azul marinho noite...

Sentada sozinha
em uma ponta de pedra
observo, escuto, cheiro
tateio e degusto

... o sal da minha vida...
(By Regina Jardim)

Espinhos da Paineira

Na minha primeira escola
Havia uma paineira-rosa
Eu era muito pequena
Mas já muito observava...
Aquele duro tronco de espinhos
Que no céu terminava
em copa de vários matizes de rosa...
Eu ficava imaginando
o porquê de tantos dos espinhos...
Na primavera, depois da floração
As flores explodiam em frutos como algodão
Vinham os periquitos e as maritacas
Misturavam se as róseas flores
E ao branco algodão
Como crianças tagarelas...
Em intensa, mas suave algazarra...
As maritacas espalhavam as painas
Brancas como algodão
Pelo azul intenso do céu da minha escola
Como nevasca tropical
Debaixo de muito sol...
Eu ali pequenina
Não conseguia entender
Porque um céu cor de rosa
Com neves de algodão
Tinha duras cascas
e espinhos de montão...

(By Regina Jardim)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Jabuticabas

















Meu pai trouxe-me uma tigela de jabuticabas
Do quintal da velha casa...
Roxas...possíveis brilhantes roxos...
Por elas me encantei...
Mas, no outro dia, na tigela eu encontrei
O escuro brilho da noite clara
o reflexo dos teus olhos
Nas minhas pálidas mãos
... soube naquele dia...
que a doçura da fruta
que vem da tigela
na minha língua acaba...
mas os teus olhos
como pedra de gema rara
ametistas de luz e sinceridade
cravados em mim
pela eternidade
sempre estariam...


(By Regina Jardim)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Alma Sereia

Nos meus olhos há um rio.
Um riacho de águas claras.
Onde ser mulher é ser corrente.
Rio de corredeira.
Onde mora minha alma sereia.
Onde meu canto ecoa ardente.
Nos meus olhos há um enigma.
Uma bruma de onde eu busco.
Com o mel dos lábios enveneno.
Com a luz dos olhos ofusco.
Crio armadilhas.
Qual aranha, faço a teia,
mas só devoro quem me incendeia.
No fundo do fundo do rio tem um pequeno veleiro.
Onde mora minha alma sereia.

(By Regina Jardim) 

Maresia

















Tem lua cheia no céu.
Tem cheiro ocre de mar.
Mágico mar de eterno mistério,
constantemente a marulhar.
Quero viver do mar,
com o mar,
para o mar.
Ser mulher de pescador.
Trazer no corpo
a doce maresia.
A tempestade,
a ousadia
que só tem
quem é do mar.


(By Regina Jardim)

Artificial
























Era borboleta
azul, amarela,
talvez lilás.
Voava,
te olhava,
voava...
Cortava o vento
sem olhar para trás.
Buscava aquela flor,
única, especial.
Meu corpo leve
dançava ao seu redor,
te namorando.
Buscava a tua cor,
me embriagar
em doce néctar,
suave perfume.
Olhava, voava,
dançava, voava,
a flor, a borboleta,
a borboleta, a flor.
Era borboleta,
voei, voei.
Num ímpeto
busquei a flor.
Pousei.
A flor era artificial,
a borboleta se desfez...


(By Regina Jardim)

A vida quis assim





















A vida quis assim,
que você fosse de mim.
Como a canoa deixa o rio
e sob o sol, a chuva
e o estio,
vai se acabando
aos pouquinhos...
devagarinho...
A vida quis assim,
que você fosse de mim.
Como o violeiro deixa a viola
que calada,
esquecida num canto
vai se desafinando...
devagarinho...
A vida quis assim,
que você fosse de mim,
que para sempre
eu me perdesse
do teu cheiro...


(By Regina Jardim)